O PAPEL E A TAREFA DA FÉ CRISTÃ NO MUNDO ATUAL

O PAPEL E A TAREFA DA FÉ CRISTÃ NO MUNDO ATUAL

 

Por: Jessé Maia Rios

        Aos ouvidos pós-modernos, teologia tem som de coisa velha, caricata. Ainda que a religiosidade continue viva em nossos dias, a teologia representa o oposto, estando mais ligada às formas tradicionais e institucionalizadas da religião. Todavia, esta é uma contradição apenas aparente. Quando conhece verdadeiramente o seu papel, a teologia não se deixa aprisionar nas amarras temporais; antes, caminha na busca dos valores primeiros, dos pressupostos cristãos, aplicados às necessidades do tempo presente.
        Para responder aos desafios da experiência histórica de uma sociedade pluralista, então, devemos desenvolver uma reflexão teológica que esteja firmemente embasada no testemunho da Revelação de Deus (as Sagradas Escrituras) e voltada para o entendimento das intrincadas estruturas que formam o arcabouço da nossa cultura e do nosso tempo. 
        Deus não criou homens e mulheres “religiosos”, mas, simples e “humanos” (T. Queiruga, 1999, 81)
“Deus ama criando-nos e chamando-nos a uma comunhão íntima com ele. Só amamos se assumimos atitude semelhante à criativa de Deus e convidamos alguém a uma comunhão conosco. Em que consiste o amor na criação? Fazer que o outro exista nele mesmo. No caso do ser humano, que ele exista em liberdade. E Deus o sustenta nessa realidade de liberdade, mesmo quando ela se volta contra ele.”
(LIBANIO, 2004, 102).
            Quando refletimos, a cerca da tarefa fé cristã nos dias atuais, não podemos deixar de acenar sobre a importância da teologia, que de forma mais reconhecida, tem menos dificuldade de aceitação neste mundo marcado pelo pragmatismo cientifico e intelectual. Cabe pois, à teologia o papel de orientar a função da fé na vida do crente cristão.
         É impossível que o homem investigue minuciosamente, durante o curto lapso mortal, parte considerável do extenso campo do conhecimento. Cabe, portanto, à sabedoria orientar nossos esforços para a investigação do campo que ofereça os resultados de maior valor. Toda verdade tem valor, inestimável valor. Não obstante, quanto a sua possível aplicação, algumas verdades são de valor incomparavelmente maior que outras. O conhecimento dos princípios comerciais é essencial para o êxito do negociante; do marinheiro se exige que conheça as leis da navegação; ao agricultor é indispensável estar familiarizado com a relação que existe entre a terra e as colheitas; a compreensão dos princípios da matemática é necessária ao engenheiro e ao astrônomo. Da mesma forma, o conhecimento pessoal de Deus é essencial à salvação de toda alma humana que tenha atingido os poderes de julgamento e arbítrio. O valor do conhecimento teológico não deve, portanto, ser desprezado. Duvida-se que sua importância possa ser exagerada.
            Os limites máximos da ciência, se é que ela tem limites, superam a capacidade de observação do homem. A Teologia trata de Deus, o manancial de conhecimento, a fonte de sabedoria; das provas da existência de um Ser Supremo e de outras personalidades sobrenaturais; das condições sob as quais ou por meio das quais a revelação divina é concedida; dos eternos princípios que regem a criação dos mundos; das leis da natureza em suas múltiplas manifestações. A teologia é, principalmente, a ciência que trata de Deus, da religião e da fé; apresenta os fatos da verdade observada e revelada em ordem metódica e indica os meios de aplicá-los aos deveres da vida. A teologia, pois, prende-se a outros fatos além dos que são especificamente chamados espirituais; sua esfera é a da verdade, dai a importância da fé no mundo atual.
            Mas à luz da teologia o que é a fé? Segundo Efésios 1,3 - "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais, nos lugares celestiais, em Cristo". Deus já nos abençoou. Deus já abençoou em abundância, com todas as bênçãos. E estas bênçãos estão guardadas num lugar, chamado lugar celestial. É como se fosse a dispensa de Deus: estas bênçãos já existem no mundo espiritual.
            No entanto, a grande dificuldade na compreensão das verdades reveladas pela fé está nas inúmeras concepções errôneos do que seja a fé. Por isso vale acenar sobre o que não é a fé. Fé não é esperança. A esperança diz: "Um dia, Deus vai curar-me". Esperança põe sempre as coisas no futuro. A Fé diz: hoje, tudo aquilo que Deus promete é meu. A Fé põe as coisas no presente. Fé não é entusiasmo. Certas pessoas quando ouvem determinado tipo de mensagens, ficam entusiasmadas com as experiências que ouvem, de homens de grande fé. E, porque estão entusiasmadas, correm a fazer a mesma coisa, mas nada acontece, pois não têm o mesmo grau de fé. O entusiasmo segue experiências, mas a fé segue a palavra de deus. a fé opera sempre, sobre as promessas de deus, e não dando passos no escuro. Fé não é um sentimento mental. Sentimento mental reconhece que as promessas de Deus são verdadeiras, mas recusa-se a agir de acordo com elas, por causa das circunstâncias. Ora, a Fé está sempre relacionada com coisas que se não vêem. II Coríntios 5,7 - "Porque andamos por fé, e não por vista".
            Assim, esperança, entusiasmos e sentimento mental são características inerentes a toda e qualquer ação humana inclusive no meio acadêmico científico. Todo cientista ao iniciar algum experimento sente-se entusiasmado pela sua ação e espera que os resultados seja útil e traga prosperidade a todo o mundo e a ciência em especial. Isso não significa que estas pessoas creiam em Deus ou utilizam-se da fé em suas vidas, pois a fé é presente e não futuro.
              Segundo Hebreus 11,1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem". Fé é você acreditar em coisas que existem, mas que não se vê. Por exemplo: você não pode ver os seus pensamentos, contudo, eles existem; não pode ver o ar que respira, mas é por ele que vive. Ainda a fé põe a Palavra de Deus acima de todas as circunstâncias. II Coríntios 4,18 – “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas".
                A fé não só se apresenta como uma segunda forma de acesso ao real, mas como o fundamento que sustenta a existência humana. É graças, antes de tudo, a possibilidade de locomover-se da incredulidade à credulidade pela dúvida e pela conversão que o homem transcende suas limitações naturais e empíricas para identificar-se a uma realidade sobrenatural. Ter fé significa decidir que no âmago da existência humana há um ponto que não pode ser alimentado e sustentado pelo que é visível e tangível, mas que toca na fímbria daquilo que não é visível, a ponto de este se tornar tangível para ele revelando-se como algo indispensável à existência. É essencial para o ser humano a crença em algo transcendente que reside longe do alcance de sua vista, algo só atingível por um esforço de simpatia intuitiva ou adequação racional. Só é possível fazer isso quando se percebe que o fundamento existencial humano está no invisível e que é mais segura a crença do que a incredulidade. Naturalmente o homem tende ao visível, mas pela “volta”, isto é, conversão, ele pode chegar a compreensão de que o visível é ilusório e de que é mais real e fundamental o invisível. Confiar apenas naquilo que os olhos vêem é na verdade uma grande cegueira, pois confiar-se apenas no visível é perseguir ilusões. A atitude de crer é deixar de observar somente o imanente e voltar-se para o transcendente, é o ato cotidianamente de resistir a tendência natural de olhar apenas para o mundo.
                As pessoas que não tiveram um contato mais aprofundado com a Teologia e nem com a Filosofia, às vezes ainda que inconscientes desta realidade, admitem que a existência, natureza e atributos de Deus é um problema que ultrapassa os recursos da razão, só podendo, por isso, ser resolvido pela fé. Por outro lado alguns negam à razão e à fé o poder de provar estas verdades. Mas como demonstramos a inteligência humana, partindo dos efeitos sensíveis, pode elevar-se, por meio do raciocínio, até à natureza e atributos de Deus, a Causa Primeira da realidade Universal.
                A grande dificuldade de crer no mundo atual está principalmente na distância temporal entre o “ontem” e o “hoje” e no abismo entre o “visível” e o “invisível”. As tentativas contemporâneas de atualizar a crença cristã aos nossos dias fazem com que ela pareça anda mais obsoleta. Tais esforços confirmam a suspeita de que se trata de uma tentativa desesperada de apresentar como atual o que na verdade não deixa de ser passado.